Você sente que o mundo e o Brasil estão mudando muito rápido? Historiadores têm uma explicação

  • 27/07/2025
(Foto: Reprodução)
Valdo: Trump não autorizou diálogo da Casa Branca com o Brasil A impressão de que o mundo atravessa, simultaneamente, guerras, colapsos climáticos, revoluções tecnológicas e conflitos políticos não é apenas sensação: é o que historiadores definem como uma aceleração da história — um período em que múltiplos processos globais se desdobram de forma interligada, intensa e imprevisível. ➡️Alguns dos fenômenos que ajudam a explicar a sensação de que o mundo chegou a um ponto de virada: Guerras comerciais patrocinadas pelos EUA e disputa com a China Tensões dentro das democracias liberais ocidentais Ascensão da extrema-direita e de líderes antissistema Conflitos armados em diversas regiões, inclusive dentro da Europa Polarização política intensa e globalizada Disputas culturais e avanço de guerras ideológicas Crise climática e aumento de eventos extremos Revolução da inteligência artificial e seus impactos no mercado de trabalho “É um cenário de incerteza em relação ao presente e mais ainda em relação ao futuro. Considero a sensação parecida com a vivida durante a Segunda Guerra Mundial. Múltiplos atores aparecem no jogo internacional, e não há clareza sobre o que será o dia de amanhã”, diz o historiador Carlos Vidigal, da Universidade de Brasília (UnB). Essa percepção se fortalece pela dinâmica do mundo atual. Em um planeta globalizado, decisões econômicas, conflitos militares, avanços tecnológicos e lutas ideológicas se retroalimentam e reverberam simultaneamente, impactando a vida de bilhões de pessoas. O fim da história? Em 1991, após o colapso da União Soviética, o historiador americano Francis Fukuyama formulou uma ideia que marcou época: a vitória da democracia liberal ocidental significaria o “fim da história” — não no sentido literal, mas como o ponto final das grandes disputas ideológicas globais. ➡️Três décadas passadas, a realidade mostra o oposto. A queda da URSS criou novos polos de instabilidade, reacendeu disputas de influência e produziu um mundo mais fragmentado. Hoje, a ideia de Fukuyama é reavaliada à luz de conflitos como a invasão da Ucrânia pela Rússia, o surgimento de potências autocratas como China e Rússia e o desgaste da democracia liberal em vários países. Além de anunciar 'tarifaço' para Canadá e México, Trump afirmou que ainda está estudando medida semelhante para a China. Getty Images via BBC ➡️Em 2022, o próprio Fukuyama voltou ao debate com o livro "Liberalism and Its Discontents" (Liberalismo e seus descontentes, em tradução livre), no qual faz uma revisão crítica de suas ideias anteriores. Inspirando-se no ensaio de Freud "O mal-estar na civilização", o autor reconhece que o liberalismo falhou, nas últimas décadas, em atender às expectativas de justiça social — o que contribuiu tanto para o avanço de líderes populistas à direita quanto para o descontentamento crescente entre setores da esquerda. O cientista político Murilo Medeiros afirma que as sociedades carregam cada vez mais o "sentimento de exclusão e insatisfação" em relação às instituições democráticas. Segundo o especialista, esta emoção é transformada em apoio por alguns grupos por meio de ento de exclusão e insatisfação" sobre as instituições democráticas frequentemente é usado para "retóricas emocionais, como medo, a raiva, a criação do inimigo externo". "Com o descrédito das elites, a polarização ganhou terreno entre diferentes grupos ideológicos. E tal cenário alimentado por sentimentos de exclusão e por uma busca maior de controle popular sobre as decisões políticas", afirma Murilo Medeiros. Guerras e militarização O uso da força voltou ao centro da política internacional. A invasão da Ucrânia pela Rússia, os conflitos no Oriente Médio e o aumento das tensões no mar do Sul da China refletem uma nova era de expansão militar, muitas vezes comandada por líderes populistas com discurso nacionalista. “Vamos assistir a uma nova corrida por armas e tecnologias militares. A preparação para a guerra se tornou explícita”, afirma o historiador Antônio Barbosa, da UnB. Em 2025, segundo a Academia de Genebra, universidade suíça, havia 110 conflitos armados ativos no mundo — com maior incidência no Oriente Médio e na África. Um dos episódios mais recentes foi o ataque de Israel ao Irã, em junho, sob a justificativa de neutralizar uma ameaça nuclear. Guerra da Ucrania GETTY IMAGES Blocos econômicos e disputas comerciais Em paralelo aos conflitos, disputas comerciais e tecnológicas também remodelam a ordem global. Os Estados Unidos, sob a presidência de Donald Trump, têm adotado tarifas e sanções unilaterais como estratégia de contenção ao avanço chinês e para reafirmar sua hegemonia. “A globalização interconecta todos os fatores”, explica o cientista político Joscimar Silva, também da UnB. “Um exemplo claro são os blocos econômicos, que atuam de forma coordenada para defender interesses comuns e redesenham o cenário geopolítico”, analisa o professor. Ao mesmo tempo, alianças econômicas no Sul Global se fortalecem – países em desenvolvimento se organizam em blocos, como o Brics. Isso enfraquece cada vez mais a posição hemegônica dos Estados Unidos e estimulam uma ordem multipolar no mundo. O Brasil, por exemplo, negocia acordos com União Europeia, China e países africanos, tentando ampliar sua margem de manobra geopolítica. “O que os EUA fazem é conter a ascensão da China. Mas a potência asiática já desenvolveu tecnologias que superam as ocidentais e conquista mercados com rapidez”, diz Antônio Barbosa. A força da China e a resposta russa A China cresceu 5,2% no segundo trimestre de 2025, mesmo em meio à guerra comercial com os Estados Unidos. Em parceria com a Rússia, Pequim propõe um modelo alternativo à democracia liberal ocidental. “Putin e Xi Jinping promovem a ideia de que regimes autocráticos garantem maior eficiência e coesão. Essa será uma disputa ideológica central nas próximas décadas”, avalia Felipe Loureiro, professor de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo. Putin, por exemplo, age para restabelecer o prestígio russo com base em narrativas históricas, expansionismo territorial e no fortalecimento da própria figura como líder absoluto. A anexação da Crimeia, a invasão da Ucrânia e a atuação militar em países vizinhos fazem parte desse projeto. Brasil e China firmam parceria que prevê ferrovia ligando Atlântico e Pacífico Polarização, identidade e disputa cultural No plano interno dos países, o avanço de lideranças autoritárias, a polarização nas redes e o crescimento de movimentos identitários reconfiguram o ambiente político. “Movimentos sociais surgem buscando direitos, mas também são capturados por discursos de guerra cultural por parte da extrema direita”, afirma Antônio Barbosa. A disputa gira entre uma agenda de costumes conservadora e demandas progressistas por igualdade e diversidade — o que intensifica o clima de confronto em países como Brasil, Argentina, Estados Unidos, Hungria e Itália. “A liderança populista surfa na onda do medo, da desinformação e da nostalgia de um passado hierárquico. As redes sociais reforçam as bolhas e simplificam debates profundos”, analisa o antropólogo Ismael Silva, da UnB. Revolução tecnológica e o futuro do trabalho A inteligência artificial (IA) e a automação impõem um novo salto civilizacional. O Fórum Econômico Mundial estima que, até 2030, 92 milhões de empregos podem desaparecer, mas 170 milhões de novas vagas devem surgir — exigindo maior qualificação e reestruturação do mercado de trabalho. Segundo o historiador Carlos Vidigal, da UnB, o acesso desigual à tecnologia pode ampliar abismos sociais. E a regulação da IA, se vier, terá de ser construída em colaboração com os setores produtivos e os governos — sob risco de ampliar ainda mais a instabilidade global. “Esse padrão se repete desde a Primeira Revolução Industrial. Mas agora, a desigualdade pode se aprofundar ainda mais”, alerta Vidigal. Um novo ponto de inflexão O “fim da história” previsto por Fukuyama não se concretizou. Em vez disso, o mundo assiste a uma nova disputa por poder, tecnologia, recursos e narrativas. Democracias passam por crises de identidade e autocracias se fortalecem, entre o Ocidente e modelos alternativos, entre o passado que resiste e um futuro em redefinição.

FONTE: https://g1.globo.com/politica/noticia/2025/07/27/voce-sente-que-o-mundo-e-o-brasil-estao-mudando-muito-rapido-historiadores-tem-uma-explicacao.ghtml


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